A review by beabaptistaa
O Nome das Coisas by Sophia de Mello Breyner Andresen, Maria Andresen de Sousa Tavares

inspiring reflective fast-paced

3.0

este foi o meu primeiro contacto com a obra de sophia de mello breyner desde a escola primária e a primeira vez a ler a sua poesia. um livro pequenino, que se lê numa manhã solarenga, cheio de luz, memórias, referências a fernando pessoa, dedicatórias a amigos e algum comentário político (pró esquerda e contra a  direita). em “o nome das coisas”, andresen tanto me surpreendeu pela positiva, como me desiludiu um pouco.

não deixem que as minhas 3 estrelas vos afastem deste livro. a minha pontuação mais baixa vai para o facto de, em 52 poemas, há alguns que eu achei mesmo maus (talvez não tenha sensibilidade suficiente para os compreender) contudo, há poemas que são excelentes, que guardo com carinho e admiração. no geral, preferia que esta coleção tivesse tido uma curadoria melhor, mas continuo a achar que a qualidade dos poemas bons tem mais valor que o número superior de poemas “”maus””.

os meu poemas preferidos foram: ─────── ☽ •

Guerra Ou Lisboa 72: 4/5
Lagos I: 4/5
Nesta Hora: 5/5
Com Fúria e Raiva: 4/5
A Casa Térrea: 4/5
Caderno I: 4/5
Museu: 4/5
Carta de Natal a Murilo Mendes: 5/5
Regressarei: 4/5
Açores: 4/5
Nestes Últimos Tempos: 5/5

excertos dos meus poemas preferidos: ─────── ☽ •

Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida

O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe

— NESTA HORA

Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra


— COM FÚRIA E RAIVA

Que a arte não se torne para ti a compensação daquilo que
[não soubeste ser
Que não seja transferência nem refúgio
Nem deixes que o poema te adie ou divida: mas que seja
A verdade do teu inteiro estar terrestre

— A CASA TÉRREA

Como eu só o via nessa quadra do ano
Não vejo a sua ausência dia-a-dia
Mas em tempo mais fundo que o quotidiano

Descubro a sua ausência devagar
Sem mesmo a ter ainda compreendido
Seria bom Murilo conversar
Neste dia confuso e dividido

Hoje escrevo porém para a Saudade
- Nome que diz permanência do perdido
Para ligar o eterno ao tempo ido
E em Murilo pensar com claridade -

— CARTA DE NATAL A MURILO MENDES

Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças

Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?

Que diremos do lixo do seu luxo — de seu
Viscoso gozo da nata da vida— que diremos
De sua feroz ganância e fria possessão?

Que diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?

Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos
De suas fintas labirintos e contextos?

Nestes últimos tempos é certo a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto

Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?

— NESTES ÚLTIMOS TEMPOS

boas leituras! ─────── ☽ •